PATERNIDADE EDUCAÇÃO - FAZENDO HOMENS
- Nícia tavares
- 11 de mai. de 2015
- 4 min de leitura

Quando eu era menina, constantemente ouvia alguma pessoa perguntando ao meu irmão: O que você é? Ele respondia prontamente como todos os meninos de sua geração: Homem, ué! Atualmente, se fizermos essa pergunta a um menino, ele terá dúvidas sobre a resposta a ser dada. É que são tantas as ofertas de respostas, e parece ao menino que todas elas possuem o mesmo peso. É como se homem não fosse a resposta que identifica com o mais importante . Pode responder: O filho de fulano, ou adepto dos Emo (tribo jovem), ou esqueitista, internauta,, palmeirense, e outros. Parece que é obvio ou secundário ser homem, e que ele não precisa preocupar-se com esse detalhe. Surge até uma brincadeira popular, onde se pergunta: Você é um homem ou um rato? Temos a impressão de que o papel masculino não está bem definido ao menino. E é interessante observar que muitos jovens estão completamente alienados do contexto masculino, os brinquedos são computadorizados, as histórias dos desenhos infantis trazem morais, mas diferentes das fábulas e contos antigos, não vestem mais as roupas do pai, não se interessam por conteúdos político, e não os percebemos engajados em projetos interessantes que sejam sociais, ou de cunho científico. Temos a impressão de que os jovens estão vazios, com pouco conteúdo, e grau de interesse bem limitados ao seu universo pessoal. Voltando àquela pergunta feita ao meu irmão, afinal, o que é ser homem? Sabemos que o humano aprende por imitação, então o menino imita o pai, e prepara-se para assumir seu papel social. Mas será que quer imitar um sujeito que coleciona preocupações aos montes pela casa, sempre nervoso porque o dinheiro não deu para as despesas do mês ou trabalhar significa “suar a camisa”. Sem contar que esse homem nunca tem tempo para o filho, alegando seu mau humor ao cansaço, dor de cabeça, preocupação. É só dificuldade, porque ganhar a vida é muito duro, e ser adulto responsável é muito sofrido. Bem, se esse fosse o exemplo a seguir, acho que é de se pensar, pois assusta o menino, que sabiamente, resolve não crescer. Instalamos sem perceber ao jovem a “Síndrome de Peter Pan”. Ao apresentarmos o mundo adulto aos filhos e na ânsia de que eles entendam que há um peso na responsabilidade sobre seus atos, acabamos apresentando algo assustador que dificultará ao jovem amadurecer e querer a responsabilidade sobre suas ações. Por outro lado e por conta do mundo atual violento em que vivemos, criamos filhos dependentes de nós. Nossos valores acabam esvaídos, porque frente a tantas corrupções em todos os níveis, estamos desenvolvendo uma espécie de psicoadaptação, como se tudo fosse normal. Falo de algo que uma propaganda de cunho eleitoral retrata muito bem: No início, era uma abelha que entrou e incomodava demais na orelha do rapaz, porém, após um tempo, ele já a alimentava com mel. Isso é psicoadaptação. Você aprende a conviver com a situação anormal como se ela fosse a situação normal. Vimos que vários componentes podem atrapalhar as escolhas do menino: temos uma gama de ofertas sobre o que é ser homem, que vai ser julgado de acordo com os valores éticos e morais que atualmente são enfraquecidos pelo sistema e pela psicoadaptação. Se for corajoso, ele vai fazer a opção profissional, um técnico, inventor, empresário ou esportista. Sem esquecer que ele também será marido, pai, e filho de pais idosos. (Vocês repararam como se proliferam as casas de repouso nos dias atuais?). Parece que estamos formando pessoas de fora, superficiais. Mas um homem precisará aprender a colocar de dentro para fora suas melhores essências, pois para ser mesmo um homem, tudo o que fizer, as opções que fizer, deverá executá-las com excelência e máxima perfeição. Para isso, sua matéria prima interior deve ter categoria. Essa categoria não é comprada, mas adquirida ao longo de seu desenvolvimento através do exemplo principalmente de seu pai. Não dá mais para acreditar que a ausência do pai na educação dos meninos não causará transtornos ao mesmo. Um órfão tem um pai idealizado, porém, há muitos pais “mortos” nas relações com o filho que não pode idealizar.E nem sempre o pai demonstra sua satisfação em ser homem. Fica esquecido, relegado a terceiro plano o fato de que há muitas gratificações em ser adulto, há o poder de decisão, o poder de satisfação das necessidades pessoais e daquela família, da realização de objetivos, concretização de sonhos. E muitos outros prazeres que são ocultados, omitidos dos meninos, por palavras e ações. Pode ser que nem todo homem tenha prazer em sê-lo. Um minuto de exemplo é melhor que duas horas de carraspana. Então, o que seu filho vê sobre você? Se for algo difícil de ser imitado, ele utilizará a inteligência para sair do esquema, resolvendo o problema dele de outra forma, inclusive ficando imaturo apesar da idade. Não adianta um terno e gravata para apresentar um homem de bem. É necessário que ele saiba que está no mundo para ser feliz. Mas essa felicidade não existe se for um ato egoísta, e só acontecerá se ele puder exteriorizar através de um EU forte e centrado, sua natureza divina, para que consiga ser realmente humano. Como conseguir essa formação? Cabe a nós, aos pais, sairmos do nosso egoísmo, dessa psicoadaptação, desse mau humor, mostrar que ser adulto é bom e dá prazer, transcender as nossas atitudes e iniciarmos em nós, com humildade, as reformas e mudanças que queremos ver em nossos filhos. Matéria publicada no jornal dia 10 de setembro de 2008
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