PSICOLOGIA - SONHOS
- Nícia tavares
- 15 de mai. de 2015
- 4 min de leitura

“Numa reunião noturna entre amigos, Maria oferece um canapé ao seu marido, o João, e para espanto de todos, é grosseiramente mal tratada por ele”. Sabemos que os casais têm suas desavenças, problemas não conversados, mas depois de algum tempo a situação perdurou e uma amiga pergunta à Maria: -O que aconteceu entre vocês? - Não sei porque ele acordou assim hoje, não quer conversar comigo e parece que está com muita raiva de mim. Porém, conscientemente não fiz nada, não sei do seu motivo. A amiga resolve fazer a mesma pergunta ao marido, que responde: - Ela me fez sim, em sonho, porque eu sonhei que ela estava me traindo com um ator da novela das nove, e estou com muita raiva dela por isso. Ainda não a perdoei . Vamos analisar um pouco essa história. A impressão que João tem é que viu Maria com o suposto ator de novelas em algum lugar no tempo e espaço com o qual estamos acostumados a conviver enquanto acordados. Ele percebe o sonho como algo que não pertence a ele, pois Maria é a dona da ação que o chocou. Na realidade, os sonhos acontecem no cérebro do sonhador. Existe um fenômeno enquanto dormimos que podemos dizer, é paradoxal, pois enquanto sonhamos que nos movimentamos, um mecanismo desliga, desconecta a área responsável pela execução de tais movimentos no cérebro. Com isso permanecemos imóveis na cama, com a sensação de estarmos correndo, caindo, brigando, voando, e outros. Ao dormir, nosso sono se processa em ciclos de noventa minutos cada (aproximadamente); algumas pessoas necessitam cinco ciclos para descansar bem, outras necessitam até sete.Em cada ciclo descemos a níveis profundos (dormiu como uma “pedra”), e voltamos para níveis mais superficiais, próximos da vigília, do estado acordado. Nesse período de vigília é que sonhamos por aproximadamente dez minutos, depois iniciamos novo ciclo de sono, e assim por diante. Por isso podemos ter vários sonhos numa noite, em cada ciclo um. Ou podemos sonhar em capítulos, onde o sonho continua a cada ciclo. E de acordo com a profundidade do sono, o sonhador lembra ou não dele. Tudo é processado em nosso cérebro, não saímos por aí, não nos transportamos. E os sonhos são exclusivos do sonhador e só tem a ver com ele, bem como todos os personagens que se criam durante o sonho. Essas figuras que se formam são representações próprias ao sonhador e não devem ser atribuídas a outrem. Segundo C. G. Jung, os sonhos são pontes entre o consciente e o inconsciente, e sua função é ajudar de maneira útil, o equilíbrio psíquico total. E a imagem constitui uma expressão concentrada da situação psíquica total, não apenas dos conteúdos inconscientes. E para entender o significado de um sonho, precisamos nos agarrar tanto quanto possível às suas imagens. Ao analisar um sonho, Jung perguntava constantemente ao paciente: O que dizia o sonho? Isso porque qualquer tentativa de análise de um sonho, é preciso levar em conta as atitudes, a experiência e a formação (background) do sonhador. É uma aventura comum vivida entre o analista e o analisando. E o caráter das interpretações do analista é experimental, até que elas sejam aceitas e sentidas pelo analisando. Os sonhos devem ser encarados como amigos, e não devem ser analisados como fatos isolados, mas sim como parte de uma comunicação dos processos inconscientes. Voltando ao exemplo inicial, nosso sonhador encara os fatos referentes a conteúdos internos dele, como sendo algo produzido por sua esposa. Mas para análise desse sonho embora seja fictício, junto do sonhador não vou perguntar o que dizia o sonho, ficará implícito que o fiz. Então vamos decompor os elementos do sonho em partes. Podemos pensar em três pessoas: – ele, a esposa, e um ator. Vamos substituir a esposa por uma figura feminina interna que Jung denomina ânima. E quanto ao ator, substituímos por uma figura masculina simbolizando sucesso, aceitação, reconhecimento público, beleza, interpretação de papel. Depois podemos classificar as emoções do sonho: ele de fora presenciando uma harmonia do homem de atuação eficaz com o feminino “apaixonado”. Numa análise maior, incorporou o papel (representado pela figura do ator) de uma pessoa mais atuante, e pode conquistar mais ainda sua figura de mulher interna (representada pela imagem da esposa). Isso demonstra que está havendo uma melhor integração, uma melhor resolução dos seus conflitos internos, o masculino e o feminino, fortalecendo e integrando mais seu EU, diminuindo sua insegurança e fazendo com que ele tenha uma atuação consciente mais eficaz. Infelizmente, no caso de João, ele nem se dá conta que esse sonho está dizendo algo muito bom a seu respeito, mostrando-lhe sua capacidade de superação de suas dificuldades. Ele nem poderá comemorar essa vitória por conta de nunca ter se preocupado com o que lhe acontece enquanto dorme. Não entendeu a mensagem onírica que estabeleceu a ponte entre o inconsciente e seu consciente. Ainda por cima desgasta o casamento com ciúmes que agridem a integridade moral da esposa, e que não tem nada a ver com conduta objetiva. Coitada da Maria! Paga o pato. Leitor procure não associar objetos do seu sonho com elementos negativos, crenças ou crendices populares. Tampouco compre livrinhos sobre sonhos que dizem se você sonhar com cobra, deve jogar no bicho ou fugir da sogra. Há pessoas que poderão ajudá-lo a interpretar seus sonhos com mais cientificidade. Mas você é a peça chave e fundamental para ajudar nessa interpretação. O que o seu sonho quis dizer? Utilize seus sonhos a seu favor, afinal eles não existem por acaso. Procure saber mais Matéria Publicada no jornal dia 10 de junho de 2009
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