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DESENVOLVENDO A INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL

  • Nícia tavares
  • 18 de mai. de 2015
  • 5 min de leitura

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Eu me lembro quando criança ser muito tímida. Meus brinquedos prediletos eram possíveis naquelas épocas: bicicleta na rua, andar nos matos e charcos existentes aqui na região do Alto da Lapa, e ler por horas a fio debruçada na cama da minha mãe as literaturas emprestadas da biblioteca infantil. Chegando na puberdade, se me deparasse com um conhecido andando em direção contrária, o fato de pensar na obrigação de cumprimentá-lo, fazia com que eu atravessasse a rua com os olhos voltados para o chão. Os anos foram passando, e hoje, quem convive comigo sabe que aquela menina está muito longe desta adulta. Houve uma mudança radical. O que aconteceu comigo? Para entender melhor, vamos buscar Celso Antunes que define o ato de inter legere (entre escolhas), significando-o como o inteligente é quem escolhe a melhor saída entre duas ou mais possibilidades. E diz que aquele que tem mais facilidade para compreender as coisas, vai ter melhores escolhas, maior número de saídas na busca de soluções. Antes da neurociência, a inteligência era dividida em verbal e lógica. Os primeiros estudos partiram de Harvard, e hoje sabemos que há também a inteligência intrapessoal e inteligência interpessoal. A inteligência intrapessoal é aquela quando depositamos energia gratuitamente no mundo interno, facilitando o auto conhecimento. Tem a ver com auto-estima, auto-respeito, auto-aceitação. E para essa pessoa depositar a energia fora dela, no outro é necessário fazer muito esforço. Isso cansa mais. A tendência é permanecer mais tempo onde cansa menos, isto é, voltada para si, por isso era mais fácil eu mudar de calçada do que olhar para o outro, conferir-lhe algum valor e cumprimentá-lo. A inteligência interpessoal é quando ao contrário, temos mais facilidade em depositar a energia no outro, e tem a ver com as boas relações com as pessoas, e o auto conhecimento é o que demanda maior energia, é mais cansativo. É a maneira como construímos as nossas relações com outras pessoas e a forma de como nos sentimos completados quando na relação com essas pessoas. Todos nós conhecemos excelentes pessoas, mas que não aceitam a convivência em grupo. Parece que o indivíduo nasceu para conviver consigo mesmo, e passa muito tempo isolado, até opta por empregos que sejam solitários. São pessoas que não vivem o mundo para fora. Essas pessoas possuem a inteligência interpessoal pouco desenvolvida. Nada há a mudar, isso não será problema se suas profissões não o exigirem, porém se, por exemplo, a profissão necessitar movimento para fora,como o magistério, sofrerão, sentirão infelicidade, pois a abertura para o outro é essencial. Mas nós podemos treinar a inteligência interpessoal. É mais fácil que ficar mudando de profissão. Mesmo porque necessitamos dela razoavelmente desenvolvida para freqüentar sem opressão os ambientes sociais, uma escola, para aceitar e ser aceito pelos colegas, ir à igreja e participar nos movimentos pastorais, ter amigos, para constituir uma família e levá-la a se desenvolver harmoniosamente, naturalmente, e até para procurar um emprego que dará o sustento financeiro. Diversos assuntos já foram abordados para auto melhoramento pessoal referentes a inteligência intrapessoal, sobre voltar-se para si, e esta matéria quer mostrar a inteligência de voltar-se para fora, para o outro. Para isso fomos buscar estudos do psicólogo John Gottman , trazendo apenas como uma vaga referência, pistas sobre o que trabalhar para melhorar sua inteligência interpessoal.

-Segundo ele, o primeiro ítem é sentir empatia, isto é, sentir-se como o outro. Isso é diferente de ser solidário, embora o solidário ouça atentamente com o desejo de cooperar, não consegue envolver-se no problema a ponto de senti-lo como seu. As pessoas confundem com empatia, porque temos regras sociais que dizem que devemos ser simpáticos, e esse seria um motivo pelo qual mesmo não sentindo, fingimos que somos empáticos. Então você deve avaliar sinceramente seu poder em sentir o outro. Devemos lembrar que é nato no humano, pois os bebês mostram enorme poder de empatia, já nos primeiros meses de vida. O choro de um bebê contagia o outro e a calma de um bebê, acalma o outro, estudos em berçários demonstram isso. -Como outro item, está a capacidade em reconhecer a emoção do outro. Na primeira nos ligamos ao sentir, agora chegamos no agir.Se seu amigo está em crise e você ouvi-lo com atenção, simpatia e sinceridade esquecendo você mesmo, estará ajudando-o a lidar com seus sentimentos. A palavra “companheiro” significa dividir o pão, e pode ser o pão em inteligência emocional, buscando alguma saída juntos, ou alguém para ouvir e aliviar a angústia, mesmo que temporariamente. -Um terceiro item é legitimar o sentimento do outro, e se ele está com raiva, não podemos ter a tendência imediata de dizer para não senti-la, mesmo que para você a mesma cena fosse sentida diferente. -No quarto item vem a nossa capacidade de crítica. Já dedicamos aqui no jornal dois artigos seqüenciados (Do jeito que você me fala), integralmente para esse assunto, saber criticar o que desaprova, jamais confundindo o gesto com a pessoa que praticou o gesto. Aprender a reprovar o gesto ou a conduta, mas sem ofensas, você não é só a sua atitude errada, por que o outro o seria?. -Outro item importante é ajudar a pessoa a nomear suas emoções, raiva, frustração, insegurança, vingança, inveja, ciúme, etc, para que ela entenda qual o sentimento que causa sofrimento. -E por fim, não queira encontrar soluções para a pessoa, mas procure encorajá-la para buscar uma solução para o problema.

Bem, leitor e companheiro, divido com você este pão, o desenvolvimento da minha inteligência interpessoal. No meu ofício, como se pressupõe, devo ter a capacidade de me deixar ir, de me abandonar na emoção e dor do outro, sentindo-a profundamente e a reconhecendo como se fosse minha. Mas também pressupõe a técnica de após, me resgatar, me perceber sem a dor e então sim, a partir de uma teoria escolhida por mim dentre algumas abordagens, pressupõe situá-lo no contexto que era inconsciente (motivo do sofrimento), mas que se faz luz, e a partir daí fortalecer esse EU, e após, incentivá-lo a buscar efetivamente possíveis soluções para sua dor. Como vimos, podemos ser mais que solidários, basta desenvolver a inteligência interpessoal. Foi o que aconteceu comigo, por conta do exercício da profissão, sem que eu me desse conta naqueles momentos. Você pode viver sem essa inteligência? Pode, mas saiba que pesquisas na psicologia do trabalho mostram que o indivíduo com menor inteligência interpessoal demora em média cinco anos a mais para alcançar promoções no trabalho, porque as pessoas não o percebem e não sabem que ele sabe. Mas quando for promovido, vai necessitar dela, senão...


Matéria publicada no jornal dia 10 de agosto de 2010

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