RELIGIÃO E PSICOLOGIA
- Nícia tavares
- 18 de mai. de 2015
- 3 min de leitura

A igreja católica costumava ver a psicologia como suspeita, inclusive no que diz respeito à confissão, como se o psicólogo fosse um confessor. Assunto de interesse, e valendo a pena refletir sobre ele, quero questionar com você, querido leitor, para explicitar se existe de fato um conflito fundamental entre religião e psicologia. Vamos esclarecer alguns pontos, pois acredito que quando a gente desconhece, por falta de elementos verdadeiros, pode interpretar erroneamente qualquer assunto. Você fala com Deus sempre, não é? .Como sabemos que estamos falando com Deus? Deus nos fala e o compreendemos à luz da nossa sobriedade, da nossa serenidade. Eu o ouço e o entendo através da minha psique. Só poderei pedir ou receber Dele se estiver em sintonia fina com Ele na tranquilidade e no amor.( Assim pareceu que aconteceu a Moisés, orando, sozinho, no topo de uma montanha.) Com raiva eu não falo com Deus, certo? Porém somos muito vaidosos e gostamos de acreditar que nós somos senhores das nossas almas. Mas enquanto formos incapazes de controlar os humores e as emoções, ou incapazes de nos conscientizarmos das inúmeras “maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos nossos projetos e decisões”, certamente não seremos nossos próprios donos. Os fatos do cotidiano revelam um grau de dissociação e confusão psicológica, isso dificulta o entendimento de Deus. Nas diferenças, a psicologia como ciência que conhecemos hoje, é tão vulnerável quanto qualquer teoria científica, sendo apenas uma tentativa efêmera para explicar fatos, e nunca uma verdade eterna. Deus é uma verdade eterna. Um outro grande diferencial entre a religião e a psicologia é a forma de tratar o fenômeno que podemos chamar de erro da pessoa, ou pecado. A psicologia não se detém no julgamento, se foi certo ou errado, pecado ou não, mas vai focar sua ação no descontrole dos humores e das emoções do indivíduo, que acabaram por gerar a situação do erro. E o grande objetivo é ajudar a pessoa a se perceber nesse descontrole, para depois de se confrontar com ele, estar em condições de entendimento e fortalecimento para mudar o rumo das suas escolhas. Numa das revistas da Família Cristã (março de 2003), Pasquale Iónata diz que “não existe nenhum conflito fundamental entre psicologia e religião, embora no passado tenha havido discordância. Afirma ainda que o que se deseja é a colaboração entre esses dois grupos, nenhum é melhor que o outro, e não podem um assumir o papel e a função do outro, pois ambos procuram o bem da pessoa que sofre”. Outra diferença se aplica ao se dizer que a neurose é uma prisão, e o pecado segundo S. Paulo é escravidão. A psicologia é capaz de tirar das prisões psicológicas. E Deus liberta. A psicologia ajuda a distinguir as emoções sentidas pelo indivíduo, para que não seja confundido, por exemplo, timidez com humildade, sentimentalismo com devoção, prazer com pecado, rejeição da sexualidade com castidade. Ou ainda não confundir, medo com prudência, fragilidade com caridade, mediocridade com moderação, preguiça para trabalhar com desapego dos bens materiais, etc. A psicologia ajuda o indivíduo a identificar a distância entre o que ele percebe e o que é real, motivo que o leva as neuroses ou outras patologias. Acompanhamento psicológico implica em falar, "confessar” suas atitudes, seus sentimentos, sejam quais forem, porém, perdoar, cancelar o pecado é um sacramento, não é função da psicologia. Passando por acompanhamento psicológico, a pessoa terá uma relação melhor com o seu entorno, mas alargar os caminhos estreitados pelo egoísmo, preencher com amor as lacunas e as dores da incompreensão, diminuir a arrogância e o orgulho, são as tarefas da espiritualidade. Desde o início do século passado, as instituições, organizações trabalhistas e mídia, têm-se aproveitado dos conhecimentos da psicologia, assim como mais atualmente nas mais diversas áreas nos aproveitamos da física quântica, da neurociência. Se nós já descobrimos a anestesia, não justifica extração de dentes sem a utilização da mesma. Então, porque não utilizarmos a psicologia, se faz bem aos indivíduos? Quero terminar a reflexão citando uma frase que busquei na revista Vida Pastoral de outubro de 1998, com as raízes no vaticano, onde o autor se referia não só aos leigos, mas sim aos presbíteros, que diz: “Uma existência reconciliada como acolhida da totalidade de si mesmo, com suas luzes e sombras, possibilita ao padre uma experiência mais madura de amor para consigo e para com os outros” .Severino Pagani Matéria publicada no jornal dia 10 de setembro de 2010
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