AS FORÇAS PARA UMA TRANSFORMAÇÃO DE SENTIDOS - PARTE 2
- Nícia tavares
- 19 de mai. de 2015
- 3 min de leitura
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O tempo é tão grande quanto o vemos, e na grandeza do tempo cresce o homem”. C.G. Jung
No artigo passado fazíamos uma comparação entre dois pensadores, Keyserling, (Graf Hermann) e Jung (Carl Gustav), para podermos entender um pouco sobre o curso atual da humanidade. Quando perguntamos sobre os assuntos mais avassaladores, tipo violência e guerra, devastação ambiental etc, individualmente todas as pessoas dizem que não fazem o mal, e alegam também que querem o melhor para a humanidade e o mundo. Só que percebemos que coletivamente estamos num mal estar mundial geral. Falamos ainda numa necessidade de transformação de sentidos da natureza humana, uma vez que hoje se apresenta tal como é, com toda sua agressividade, egoísmo, inveja, competitividade, e em todo seu estranho desequilíbrio. Resumindo as conclusões, só para relembrar, Keyserling afirma que existe uma DIVERSIDADE enorme, uma herança de muitos povos e seus pensamentos, e por isso a dificuldade de se encontrar um mundo uníssono. Afirma ainda que se faz necessário uma renovação religiosa, e que as religiões são as responsáveis por todos esses acontecimentos na medida em que não fizeram e não fazem algo acontecer para melhorar a “espiritualidade” das pessoas, o que contribuiria para o despertar de uma conscientização mais humanitária e amorosa. Mas resumindo no contraponto, ainda para relembrar, Jung afirma que não deve e nem pode ser visto uma diversidade na raça humana, quando se fala em massa, pois ele percebe uma UNIFORMIDADE que se parece a um “equilíbrio desesperançado”, onde as pessoas não querem mudanças, nem que seja para melhor. E ele percebe ainda, que em geral o mundo todo recebe uma energia estranha que faz isso acontecer, como se fosse uma grandiosa força que não permite que se saia da mesmice, e denomina esse estado então de “forças perigosas”, “telúricas”, capazes de provocar uma inércia no contexto, destituindo a massa de espiritualidade provocando assim mais o mal que o bem. E alega que parece que essas forças estão presentes em aproximadamente 80% das situações, o que lentifica o processo evolucional da humanidade. Talvez por isso o que as religiões se propõe a fazer de bem, acabe muitas vezes minimizado. E conclui que necessitamos combater com urgência através de um “renascimento”. Mas, como, ou, que tipo de pessoas seriam capazes de estabelecer esse renascimento() Começamos a delinear uma esperança de algo que possa interferir nas forças perigosas, no intuito de diminuí-las, permitindo assim a maior mobilidade das massas, rumo às metas individuais tidas como boas e respeitosas. Estamos então pensando sobre quais os espíritos das pessoas que deveriam aderir às novas ordens. Que homens seriam capazes de alterar o determinismo da história atual() Se procurarmos em Keyserling, ele afirma que são os absolutamente livres, altamente independentes, interessados na qualidade, conscientes de que são únicos, com uma missão única; refratários a toda autoridade exterior, não se deixando influenciar pelos mesmos pensamentos das forças perigosas, orgulhosos de constituírem uma pequena minoria, tão altivos espiritualmente quanto as massas são passivas. Seriam homens cujas consciências deveriam possuir naturalmente a sua centragem num nível superior ao das forças perigosas. E cujo idealismo profundo prevaleceria com intensidade sendo livres de todas as considerações exteriores tais como, glória, influência, posição. Enfim, ascetas de um novo tipo, formando uma nobreza do tipo inédito. Mas Jung, mais uma vez no contraponto, acredita que essas qualidades não bastam. Diz que pessoas assim ou fundariam uma ordem, ou seriam aceitas em alguma, porém, para a responsabilidade proposta, só poderiam exercê-la se fossem capazes também de reconhecer humildemente sua dependência, de esquecer a sua unicidade. Precisariam saber adaptar-se às forças exteriores, conseguir suportar o fato de serem minoria, de ter seu centro natural de consciência voltados para a terra, à raça, às necessidades sociais e políticas e se, mediante a presença de Deus (que ainda bem, sempre se anuncia em tempo de grande indigência), brotasse interiormente uma necessidade comunitária verdadeira a partir da experiência profunda da nulidade da existência humana. E cada um precisa se descobrir, e descobrir nesse discurso a sua própria voz. Bem leitor amigo, você pode aprofundar esse tema lendo mais no livro Aspectos do Drama Contemporâneo, mas se pensarmos no maior ensinamento de Jesus, o amor, e se esse amor tivesse o alcance, a capacidade inclusive para amar o inimigo, poderíamos nos candidatar a lutar bravamente com as “forças perigosas”. No meu entender, uma luta diferente, permeada pela santidade. Aqui já teríamos a transformação de sentidos. E talvez as religiões um dia o consigam. E por enquanto estamos todos convocados, vamos à luta, começando nos primeiros passos, mesmo que seja inicialmente uma boa batalha contra as nossas próprias forças perigosas!
Matéria publicada no jornal dia 10 de dezembro de 2010
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