SOMBRA - AQUILO QUE UMA PESSOA NÃO TEM O DESEJO DE SER
- Nícia tavares
- 29 de mai. de 2015
- 5 min de leitura

Aquilo que uma pessoa não tem o desejo de ser (Sombra) “O marido tem muito ciúme da mulher, vigia, corrige, reprime, condena, a maldiz, desconfia, ofende a moral dela. A esposa não consegue entender de onde vem tanto conteúdo que nada tem a ver com ela, se magoa, tenta se defender, porém, são tentativas infrutíferas, pois a qualquer momento tudo volta à tona, marcando mais uma verborreia desgastante da relação”. Por que o marido tem esse comportamento? O que ele sente? A pessoa que ele tanto condena e aponta como se fosse tudo isso não é ela, é na realidade, outra, pois diz respeito a ele, está dentro da psique dele, do inconsciente dele, e representa o que ele tem vontade de ser e reprime. O indivíduo é (mas não admite ser) um mulherengo que se sente atraído por todas as pessoas do sexo oposto, e provavelmente trairia a mulher dele com facilidade. Mas não reconhece esses conteúdos como seus, por isso, acaba projetando-os na esposa como se ela fosse uma tela de cinema. Ele “assiste” o próprio filme, todo o conteúdo criado por ele, achando que é dela. Mas essas projeções refletem-se no próprio projetor e apoderam-se dele. A pessoa cai sob o fascínio ou a repulsa da sua própria sombra. É um pensamento avassalador que o impede de ver o outro, e só vê “ele mesmo na fita”. Resposta ao que ele sente – o incômodo produzido por sua própria sombra. É bastante interessante perceber o quanto as pessoas atribuem defeitos e maldades aos outros. Normalmente, quando do desabafo, a queixa é de sofrimento causado por outrem. Nas discussões de casal isso fica muito explicitado, pois os dedo em riste de um aponta o outro como o “causador mor” da desavença familiar e vice versa. E esse tipo de pensamento é comum. E quando não se tem um culpado objetivo digno de ser apontado, a situação é atribuída a algum bode expiatório, o outro lado, o “concorrente”, que as vezes até está quieto, como se fosse coisas das trevas (coisas do demo). A impressão que fica é que todos somos bons e a maldade e maledicência vem pelo outro e pelo além, sempre FORA de nós. Só que de fato, a gente faz algumas maldades, mas não se percebe na situação, o que nos isenta da responsabilidade (ilusão). Neste artigo, vamos refletir sobre a inconsciência que temos de nós mesmos, trazendo algo que existe em nós e quando não assumido como nosso, além de nos causar danos, pode causar danos ao outro – a SOMBRA - (Conceito Junguiano de um dos componentes do inconsciente). Imagine a soma de todas as qualidades negativas no indivíduo que ele quer esconder, colocar debaixo do tapete, o lado ‘inferior”, como se fosse uma “outra pessoa” nesse indivíduo, seu próprio lado obscuro. É a sombra que quer vir à luz e dizer, Olá! Eu existo! Quando fica reprimida e isolada do consciente jamais é corrigida, porém aparece em algum momento de inconsciência e perturba. A sombra é uma parte viva da personalidade e quer viver tal qual a personalidade vive. Segundo C. G. Jung, (psiquiatra) ela é um arquétipo, isto é, faz parte da psique humana, está alojada no inconsciente. Ele a considera um obstáculo inconsciente impedindo nossas mais bem intencionadas propostas. Isso acontece porque seus conteúdos são poderoso, marcados pelo AFETO (emoções de amar ou odiar) obsessivo, possessivo, autônomo e capaz de dominar o EU, o ego estruturado. Mas como é a manifestação objetiva da sombra? Sempre é através de projeção forte e irracional, positiva ou negativa, em cima do próximo, do outro. E são cruéis, preconceituosas, e persecutórias. A pessoa cai sob o fascínio ou a repulsa da sua própria sombra. Segundo Jung, há semelhança com um pugilista que treina tentando acertar a sua sombra, e que estara´condenado a executar um contínuo e esgotante exercício de shadow boxing (socando a sombra), pois jamais conseguirá acerta-la. Essa é a real realidade do mal demoníaco na vida humana. Mas você deve estar se perguntando se então é tudo fruto do homem, quero eu dizer que as tentações demoníacas não existem? Bem, sou muito ínfima e ignorante deste assunto para falar sobre ele, é pertinente ao clero. Não se trata de possessão demoníaca, isso é caso para exorcismo. Falo do cotidiano, das maldades veladas que fazemos o tempo todo, dos pré- conceitos que ditam normas vãs. Em relação à sombra, tem uma passagem bem conhecida no evangelho, onde Jesus é tentado por quarenta dias e noites. E senhores, o que aconteceu? Jesus cedeu às tentações? NÃO, ELE RESISTIU!! . Por que? Não havia sombra na sua psique e, em toda sua trajetória de vida, nunca projetou coisa alguma em cima de alguém. A tentação do demo a Ele de nada serviu, quem o atentou perdeu, pois o conteúdo que se manifesta precisa estar dentro de quem é tentado, para então aflorar. Por isso se diz que é MANIFESTO. Temos motivos para pensar que quanto mais nos livrarmos da sombra (muitos e inesgotáveis conteúdos a formam), mais seremos resistentes às tentações. Para casos de dependência do álcool e química, o indivíduo precisa também incorporar a parte da sombra que o prejudica, para controlar essa doença. Faz-se necessário saber que qualquer maldade que surja na nossa trajetória, é de nossa total responsabilidade, estava em nós, porque mesmo que o palco seja armado para os quarenta dias de tentações, o espetáculo pode ou não acontecer. E agora você estará se perguntando como se livrar da sombra, certo? É um desafio, que consiste em transformar a sombra em nossa amiga. Para isso necessitamos desenvolver uma conscientização daquelas imagens e situações mais passíveis de produzir projeções de sombra na vida real. Tudo o que você critica na sociedade, nos amigos, na família –É isso! É passível da sua observação e aprendizado, essa é a sua sombra, como tal está aparecendo fora de você, mas perto, costurada pelos pés, como na história de Peter Pan. Você precisa começar pensando nas frases que diz repetidamente sobre as pessoas, e admitir que é sua, analisando seriamente esse discurso. Perceberá que pode sim, ser um desejo seu, feio e deselegante, mas é seu. Só assim será rompida a sua influência compulsiva. Faça-se ciente, admita também que pode pensar coisas desagradáveis, que pode fazer coisas horríveis, mas que não quer e não vai fazer por escolha própria. É um exercício diário e para sempre Lembre sempre que o mal que você vê no outro ou “nele do além”, na grande maioria das vezes, é seu. Cabe aqui uma citação que já esteve nas pautas do jornal, mas vale a pena relembrar:
“Uma existência reconciliada como acolhida da totalidade de si mesmo, com suas luzes e sombra, possibilita ao indivíduo uma experiência mais madura de amor para consigo e para com os outros.
Severino Pagani, jornal do Vaticano 1994”. Matéria publicada no jornal dia 10 de novembro de 2o12
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