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A MÚSICA INTERIOR

  • Nícia tavares
  • 10 de jun. de 2015
  • 4 min de leitura

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“A música é o único lugar onde todos se igualam. Tocando ou cantando não há diferença de idade, sexo, cor, classe social ou cultural. É nela que todos são um.”

Emicida (Rapper Paulista)


Li recentemente um texto de um poeta africano Tolba Phanem, no trabalho de terapia familiar de Suely Engelhard e Vera Risi (da Revista Brasileira de Terapia Familiar, julho de 2014), que quero muito compartilhar com você, leitor amigo.

Quando uma mulher de certa tribo africana sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres. Juntas rezam e meditam até que aparece a canção da criança. Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe canta a sua canção. E o povo se juntará muitas vezes para lhe cantar sua canção no decorrer da vida, em seu casamento, e igual ao seu nascimento, todos se juntarão para cantar sua música em seus últimos momentos para acompanhá-lo na “viagem” da partida. Mas há um outro momento em que essa canção é cantada, e que é muito significativa: - quando a pessoa comete algum erro, mesmo que seja um crime, um ato social aberrante. A gente do povoado faz uma roda ao seu redor. Então cantam a sua canção por muito tempo, até que ele entre novamente no seu verdadeiro “ritmo”, na sua centragem.

A tribo reconhece que a correção para as condutas antissociais não é o castigo, mas é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. E quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejo nem necessidade de prejudicar ninguém. Os amigos cantam a sua canção quando você a esquecer. Aqueles que lhes amam não podem ser enganados pelos erros que ele comete, e então recordam sua beleza quando se sente feio; sua totalidade quando está quebrado; sua inocência quando se sente culpado e seu próprio propósito quando estiver confuso.

Como tenho pós graduação em musicoterapia, posso entender que isso funciona mesmo, pois há poder na música, no ritmo, nos sons em geral, suficientes para a reestabelecer uma ordenação das relações afetivas no indivíduo. E é fundamental para a pessoa, encontrar o seu próprio ritmo natural, que é diferente para cada um, para que se sinta em harmonia com a sua natureza humana, com a natureza que o cerca e com o Universo. É sabido pela astronomia que no movimento de expansão do universo há uma pulsação, que poderíamos dizer com outras palavras, um ritmo, e que dá o andamento aos demais elementos que existem nesse universo, inclusive o ritmo do nosso funcionamento cerebral. Nascemos produzindo pulsações cerebrais do tipo Alpha e grande parte da infância emitimos mais ondas Alfa do que Betha, Theta e Deltha. Quando tivermos maior conexão com o pensamento concreto, produziremos os outros tipos, porque farão parte de nossas emoções, níveis de nervosismo e estresse,inclusive a onda Betha que estou utilizando agora para escrever este texto. O cérebro é ritmado. E para voltar às origens infantis é necessário respirar profundamente, acalmar e relaxar. Tudo o que também fazemos quando estamos cantando descontraidamente. Além do que todo nosso corpo é uma verdadeira caixa de ressonância. Então, a tribo Africana está certa.

Seriam muitas as reflexões que poderíamos fazer em cima dessa atitude tão sábia dessa tribo, mas quero levar o pensamento do leitor para duas reflexões: uma aqui, e outra consigo.

Aqui quero refletir sobre nossos lares, nossos filhos, cônjuges e parentes. E sobre a nossa conduta mediante o erro de querm quer que seja, mas principalmente desses queridos, com os quais temos vínculos e dizemos amar muito.

Parece que o mundo vive uma espécie de peste , pois é muito comum o comportamento punitivo, quando não, vingativo entre a grande maioria dos povos. Do mais simples erro de comportamento de uma criancinha, até o maior erro doloso do adulto, e a nossa tendência é a de julgadores implacáveis.

Claro que se um pai desse um toque corporal num filho para corrigí-lo,não teríamos de protejer a criança com estatutos. Mas ele dará uma “surra” e fará lesões corporais no filho. Por que? Ele está dotado de raiva da situação gerada pela criança. E irado por suas vivências difíceis fora do lar, vai usar de violência e isso nada tem a ver com educação. Desprezamos a atitude de educar e trazer a criança à razão, despertando nela mais ira. Seguimos o exemplo mundial do mal da peste, e essa atitude faz retirar ainda mais a criança do seu ritmo, da sua centragem. E a violência se alastra sempre quando nos deparamos com erros em geral. (vide brigas no trânsito) Numa discussão entre casais, poderíamos dizer que o discurso que geralmente emerge, só serve para uma desarmonização, e nunca para conciliação, pois um fala o que há de pior sobre a conduta do outro , retira fatos antigos do “baú de horrores da relação”. E cada um se distancia mais ainda do outro, da sua própria natureza, do seu ritmo, do ritmo do universo, de Deus. Para falar com Deus, devemos estar em sintonia com Ele que criou um ritmo. Ira, punição e vingança levam a outros andamentos. A música é outra, lembra? Alpha!!

Para refletir sòzinho, gostaria que você leitor, baseando-se na tribo africana, refletisse um pouco sobre um outro assunto: -o que fazemos em relação aos encarcerados no sistema prisional vigente, mediante os tratos e destratos que sofrem, e o que “achamos” que vamos recuperar neles com punições violentas, desrespeitos e vinganças? E que frutos estamos colhendo com essa atitude, uma vez que somos os primeiros a reclamar da violência, e não damos conta de eliminá-la nem em nossos lares, com os que dizemos amar?

Todos somos responsáveis. Todos somos um na música.

A grande sacada é podermos SER, toda a humanidade, um uníssono, uma experiência musical Alpha do Senhor do Universo que pulsa assim: PAZ...PAZ...PAZ...


Matéria publicada no jornal dia 10 de setembro de 2014


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