FALANDO DO OUTRO?
- Nícia tavares
- 15 de jul. de 2015
- 4 min de leitura

Sempre faço uma pergunta para o adolescente ou jovem que inicia tratamento psicológico : “- O que você conversa com os seus pais”?
As respostas tendem para a mesma conclusão. Lembrando que trabalho em São Paulo, só se conversa amenidades com os filhos, mas com a convicção de ambas as partes de que se trata de assunto sério. Por exemplo, nós conversamos sobre política, falamos da robalheira no País; Nós conversamos sobre as novelas, programas de televisão em geral,escola,sexo (namoro e consequências), e críticas ao comportamento de pessoas. Continuo a pergunta.
“- Mas o que exatamente é falado”? E as respostas convegem para constatação de fatos, onde emitimos opiniões; porém muitas vezes só queremos ouvir uma opinião similar à nossa e pronto. Ficamos quase sempre na interpretação superficial.
Só que, se fizermos uma leitura ampla, poderemos ver o que tem dentro do outro e o quanto ele é uma pessoa evoluída e espiritualizada porque há uma situação bem interessante do nosso psiquismo. É que ele se manifesta o tempo todo, mostrando exatamente como pensamos e o que sentimos, porém, isso é feito de forma tão sutil que nem nos damos conta. Mas aparecem sim, basta prestar atenção, e aprender a filosofar no universo de assuntos que são pertinentes a nós mesmos.
Como exemplo dessa leitura sutil vou trazer à cena duas pessoas e fazer a mesma pergunta mediante o mesmo estímulo. Levo ambos para uma mata para mostrar-lhes uma frondosa e secular árvore com seus fartos ramos rasgando o céu, fazendo desenhos que hora encobrem o sol, hora o deixam passar. E pergunto:
-“O que você vê”?
“- Eu vejo uma maravilhosa árvore, que me faz tremendo bem olhar, me apaixona e me extasia”.
O outro diz:
-“Vejo uma bela árvore”.
Vamos analizar o que foi dito, que parece ser a mesma opinião, só que não.
Ambos falaram da árvore? Não, pois ambos falaram de si, da sua interpretação dos fatos, dos conteúdos que cada um tem e por isso só podem expressar os conteúdos que lhes são próprios.
Uma resposta parece estar com poucos recursos,e a outra dotada de recursos. Então você leitor amigo, me dirá que um tem mais cultura que o outro, e eu pretendo lhe afirmar que é bem mais sutil do que saber português. Também não se trata de dizer que um é tímido, ou pessoa simples. Estaremos falando de recursos internos diversos, desenvolvidos para elogio ou para crítica.
Explicando, cada vez que emitimos uma opinião, elogio ou crítica, estamos falando de nós mesmos. Das nossas capacidades e sentimentos despertados mediante os fatos. A primeira pessoa que respondeu disse que estava mediante um fato que até poderia ser natural, mas que a seus olhos se apresentava divino e tão espetacular, que o fazia sentir-se pequeno mediante tal fato, dando-lhe a possibilidade de dar os créditos da magnanimidade da Criação do Universo à algo maior e mais integrado do que ele. Prostra-se diante do fato humildemente e admite sua dimensão inferior mediante aquela cena, dando assim ênfase a algo superior a ele, que o rege todo o Universo.
Agora fica mais fácil você entender o que o outro disse, não é? Ele disse que é árvore, bonita, porém, é só isso, Ele ainda não entendeu a dimensão do que o cerca, possíveis leis que regem o Universo; não há humildade , e ainda vive o egocentrismo humano, onde Eu sou mais que tudo.
Não quero com isso dizer que essa pessoa é má, quero dizer que é ignorante sobre a arte de filosofar, pensar maior, ter espiritualidade, e auto conhecimento para além do conhecimento. Uma pessoa rasa, na superfície. Podemos dizer que é a média, daí, medíocre.
Quando falamos qualquer coisa do outro estamos sim, falando de nós. Os elogios são produto do nosso crescimento, e as críticas do que ainda está pequeno e necessita melhorar. E os pais não falam isso com seus filhos porque na grande maioria dos casos, também são pessoas de superfície.
Quando você criticar uma pessoa, preste muita atenção ao que lhe vier à cabeça e escreva, porque certamente você falou exatamente o que você deve ouvir para melhorar como pessoa. Brotou do seu sentimentos menos trabalhados.
Nos meus vinte e cinco anos de profissão, conto nos dedos os pais que efetivamente falaram com seus filhos dessa forma mais profunda. Como podemos acreditar que a educação atualmente dada aos filhos é consistente se estamos cuidando tão somente das aparências, na superfície?
C.S.Lewis, em seu livro A abolição do homem,diz que a educação antiga era uma espécie de propagação, a pessoa era, e a convicção de ser, e as atitudes de ser eram passadas aos filhos. Homens transmitindo a humanidade para outros homens. Porém o autor afirma que agora a educação nova é apenas propaganda. Se diz que é bom ser.
Então, pense inteligentemente em abrir discussões filosóficas com os seus filhos, mas ensine desde a mais tenra infância o que verdadeiramente é conversar.Essa reflexão passa primeiro por você inexoravelmente.
“Quando um verdadeiro gênio se mostra ao mundo reconhece-se logo da seguinte maneira; todos os idiotas se juntam e conspiram contra ele” Jonathan Swift
Matéria publicada no jornal em 10 de julho 2015.
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