SOLIDÃO, AFASTAMENTO PESSOAL E ANSIEDADE
- Nícia tavares
- 16 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de mar. de 2021

Nesses meses iniciais de 2020, tudo o que mais se ouviu dizer em relação a sentimentos, é “ansiedade” afetando o psiquismo, dando um ar de tristeza e solidão ao ambiente.
Sobre esse assunto temos uma matéria anteriormente editada no nosso jornal denominada “Facetas da Ansiedade” (se quiser procure no site, data de 10/11/2013). E ela está intimamente ligada ao fato do afastamento pessoal que obrigatoriamente nos foi imposto, no objetivo de salvar vidas.
Fato curioso é que ansiedade sempre vem à tona quando se trata do excesso de pressão do externo apressando resultados sejam quais forem, tanto educacional, familiar, institucional, social ou no trabalho. Só que agora falamos de ansiedade no momento em que todos estão em casa. (representação simbólica do lar, isto é, lugar onde podemos estar seguros e a vontade). É quando nos damos conta de tratar-se de “sentimento interno e peculiar a cada pessoa”, que pode ou não estar correspondendo a verdade.. Como ele surge?
Segundo a abordagem Junguiana (análise), o que rege o ser humano é sua capacidade em se realizar. Contamos com a mãe, e o mundo não é seguro sem a mãe – nossa primeira proteção- sem a qual desmoronamos a chorar. Isso causa sentimento de insegurança e caímos na situação do oposto a que viemos – medo de não conseguirmos nos realizar plenamente como seres humanos, pessoas. Essa realização faz parte do arquétipo (elementos comuns á todos), e segundo Dr. Jung “Tudo a que você resiste – persiste”. E muitos de nós surfamos na ansiedade, e para cada pessoa, é de um jeito.
Então surgem sentimentos de menos valia, sentimentos que estão na sombra (o lado que você tem mas não sabia que tem), que te assombram e podem causar obsessões. Isso por conta dos pensamentos negativos ou perturbadores, e quanto mais você se esforça para não o ter, mais poder ele terá sobre você. É um sentimento que surge como resultado de um conflito mental. Uma transformação tóxica das nossas energias provenientes do nosso EU desejante (instinto) que precisa de determinadas coisas que não pode alcançar e nem satisfazer.
Na situação aqui, queremos exercitar o poder de tocar nas pessoas, a vontade de ir e vir, e a necessidade de respostas sobre o fim dessa situação. Esse é o ponto que está fazendo ansiar
Fica claro então que ansiedade surge a partir de um conflito mental, e ela pode se apresentar de três maneiras:
Ansiedade realista, proveniente de medos que surgem específicos como a perda de emprego e o medo de não poder arcar com os compromissos já assumidos; interagir diretamente com um vírus em alta expansão o expondo a adoecer, adoecer os familiares, ou vir a óbito, etc.
Ansiedade neurótica, uma possível reação a certos fatos, pensamentos e idéias, só que só são reais na nossa mente, e não existem fora da mente. Porém desenvolvemos vários processos defensivos, nervosismo, e que nos descontrola.
Ansiedade moral, quando a pessoa sente que o entorno sempre é maior que a possibilidade dela. Por exemplo, não bate metas sugeridas no trabalho, os pais querem filho nota dez e ele é nota nove; a realidade sempre é demais e sempre o supera. E a mente vira para direções que não temos mais o controle.
Seja lá qual for o tipo de ansiedade que você tem, saiba que se não podemos mudar o que sentimos, podemos transformar a forma como escolhemos sentir e reagir.
O afastamento é só corporal (um e meio metro distante), mas pode ser visto por muitos como isolamento prisional, na verdade estamos nos conectando o tempo todo com todos, temos muitos veículos que nos aproximam uns dos outros, a maioria das casas tem TV e as famosas lives com artistas da atualidade, rádio, um toca músicas, livros com as idéias maravilhosas de várias pessoas, celular com watts onde falamos com nossos parentes; além, saímos para compras necessárias. Acontece que podemos criar um monstro onde não existe, e desconsiderar tudo isso, só que os caminhos estão abertos e da sua janela você vê a rua, as pessoas, árvores, pássaros, insetos.
Estar em casa pode ser visto como solidão, mas na realidade esse é um “fantasma” na nossa mente, lembra da criança no desespero pela falta da mãe? Agora, se você não é mais criança, não tem porquê chorar. E se você pensar, nem dá para ser sozinho, pois você está com você. Com todo o seu passado e com todos os projetos de futuro, com fotos e grandes recordações, com seus hobbies e alguma coisa para ordenar, aprender ou ensinar. E a grande maioria das pessoas que lerão esse texto, estarão abrigadas em algum lugar seguro. Só que terá de elaborar a frustração de não ter agora para adiar, seja lá o que for, então a ansiedade se controlará. Você pode sim se realizar, não depende exclusivamente de abraçar o outro agora, mas sim, abraçar–se e aos seus projetos, seus interesses, sua história. Tenha foco no presente. Termino com a frase de Eduardo Galeano:
“SOMOS O QUE FAZEMOS, E PRINCIPALMENTE O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS”
Matéria publicada no jornal em julho/20
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